25 de julho de 2013

Parte 2 (final)

 - Não, estou longe de estar bem - eu disse - me desculpa por te decepcionar, mas é o que fazemos agora, decepcionamos os outros, somos insuficientes, odiados, ignorados, também falamos muito palavrão, choramos sem motivo, nos mutilamos porque isso nos faz bem entre outras coisas horríveis.
 - Palavrão? Mas isso é feio e Deus não gosta de pessoas que falam. - Ele falou seriamente, me olhando nos olhos.
 - Bom, olha só, nós não nos importamos mais com isso - Expliquei - Pra falar a verdade, as vezes penso que ele não existe, ou realmente não se importa conosco. 
 - Nossa - Decepção tomou conta da sua expressão - Como tá nossa mãe? Nosso pai? e a nossa irmã?
 - Bom, a mãe tá legal, lidando com muita coisa mas ela é forte, você sabe - Falei - nosso pai, bem, não está mais conosco, perdemos ele a 3 anos atrás.
 Ele começou a chorar, fiquei sem reação, acho que deveria dizer que tudo ficaria tudo bem e abraçar ele, mas mal conseguia me mover.
 - A nossa irmã, agora a gente odeia ela, eu acho - Eu disse olhando para o chão - Brigamos sempre, ela vive gritando, diz que somos louco, doentes, não é muito legal.
 - Mas ela me ama, ela nunca falaria isso!
 - tu é muito novo pra entender, amor é psicológico, acaba muito rápido. - Expliquei - Você vai se acostumar, parar de sentir, só espera pelos 15 anos, é onde começamos a cair. Nossa alma começou a morrer aos poucos, cada corte, cada gota de sangue derramada, nos mudou um pouco e hoje somos isso.
 - Mas eu não quero ser isso! 
 - Bom, ninguém quer.
 - Como eu posso mudar isso?
 - Adivinha? você não pode! Olha isso, - mostrei o meu braço pra ele - temos várias cicatrizes, lembranças de que não valemos a pena. Ninguém pode nos ajudar.
 - PARA! - Ele gritou.
 - Olha, me desculpa por ser o que sou. Mas me diz, o que tá acontecendo?
 - Você não lembra? Você tomou todos os comprimidos que o psicólogo te receitou, de uma vez só - Ele disse rindo - Você deve estar desmaiado, talvez morto. Espero que nossa mãe tenha nos encontrado a tempo!
 Um silêncio tomou conta do quarto, percebi que estava arrepiado.
 - Qual a tua idade? - perguntei - Você já aprendeu a andar de bicicleta?
 - Não, vou aprender amanhã - Ele respondeu - O Allan vai me ensinar! 
 - Uma dica? ele é nosso irmão mas não é nada confiável - Falei rindo - Ele vai parar de te segurar,você vai bater de frente com um muro de cimento, e, puta que pariu, vai doer pra caralho!
 - Não fala isso, essa palavra, você sabe, é feia.
 - Eu não me importo.
 - Mas deveria!
 Senti minha cabeça doer e fechei os olhos, e quando os abri, eu estava caído ao lado de várias embalagens de remédios, minha mãe me balançava e chorava, escutei as sirenes da ambulância se aproximando da casa, e então voltei a dormir. Bom, eu não morri. 

Parte 1

 Já fui chamado de louco várias vezes mas nunca me importei pois sempre soube que não era verdade, mas agora não tenho tanta certeza, talvez eu esteja sonhando, ou talvez eu finalmente soltei o último fio de insanidade que possuía. Sim, deve ter sido isso, até porque, quanto uma pessoa pode aguentar até atingir a completa insanidade? 
 "Tá, mas porque tu acha que está louco, Luciano?" Ah, sim, simples: Tudo começou hoje no finalzinho da tarde, eu estava conversando com os meus amigos, ouvindo música, assistindo o novo episódio de uma série que acompanho, e no twitter (claro), quando tudo começou a desabar sem nenhum motivo aparente. Nossa Luciano, você é muito dramático.
 Em questão de minutos eu comecei a desabar, senti algo dentro de mim dar várias cambalhotas e senti o coração apertado. Mas espera, eu já estou live dos problemas psicológicos que costumava ter, então isso deve ser apenas uma recaída e em questão de minutos vai passar, sim, vai, certo? Errado.
 Comecei a me sentir cada vez pior, logo senti as lágrimas escorrerem dos meus olhos, todos estavam animados mas eu não conseguia ficar, então resolvi pensar em coisas boas mas tudo que vinha na minha cabeça era que eu era um fracassado, um lixo em forma humana, ignorado, odiado, falso, tão ruim e insignificante que as outras pessoas sentem nojo de mim. Pensei isso tantas vezes que já quase aceitei que o meu lugar não é aqui, já me castiguei por ser quem e o que sou, vários cortes, várias lágrimas e nada conseguiu me consertar.
 - Calma, não chora. - Falei pra mim mesmo - Vai ficar tudo bem.
 Senti calafrios e de repente fiquei arrepiado.
 - Luciano? - alguém sussurrou em uma voz familiar, minha própria voz mas um pouco diferente. Me virei para ver quem era e lá estava eu, o meu eu de aproximadamente 8 ou 9 anos eu não saberia dizer de certeza, sentado em minha cama, olhando para mim com olhos castanhos curiosos, vestido em uma calça jeans azul escuro e um casaco laranja com a estampa de um skatista - eu lembro bem daquele casaco, minha roupa favorita, odiei ter que abrir mão dele quando ficou pequeno para mim.
 Fechei os olhos, contei até 10 e abri, "eu" continuava lá sentado olhando para mim e sorrindo, foi então que eu tive certeza do que falei no começo desse texto, soltei o último fio de insanidade que possuía.
 - Ei, você tá sentindo alguma coisa? Dor de cabeça? - ele, eu, me perguntei.
 - Não, eu tô bem, quer dizer, não, não estou com dor de cabeça - Respondi - Mas com certeza estou com alguma coisa.
 - Ei, quantos anos nós temos agora? - Ele perguntou.
 - Tenho, temos, quero dizer, 16 - Gaguejei - Olha, o que tá acontecendo?
 - Nada, só vim saber mais do que acontecerá comigo - ele disse com um sorriso enorme no rosto.
 Fiquei em silêncio por algum tempo, ficamos nos encarando.
 - Se queria saber do nosso futuro, por quê você não seguiu um pouco mais? Para questionar o Luciano adulto sobre nossa vida? - Perguntei
 Ele não respondeu, apenas me olhou seriamente, os olhos molhados como se a qualquer minuto fossem derramar lágrimas.
 - Você não está bem, está? - Ele riu

29 de maio de 2013

 Sabe,  tenho 16 anos e na minha, humilde e não importante, opinião ainda sou muito novo para ter todos esses problemas psicológicos e físicos que tenho. Me sinto confuso, desprovido de amor próprio, tenho medo do que virá a acontecer comigo quando for mais velho, quando não tiver mais ninguém ao meu lado para me apoiar, quanto as coisas resolverem ficar muito pior do que estão.
 As pessoas me perguntam o porque de eu fazer o que faço, de sentir o que eu sinto, de pensar o que penso e isso apenas me deixa mais confuso, como posso explicar minhas mudanças de humor repentinas, minhas crises existenciais e minha constante falta vontade de viver? Como eles entenderiam que correr uma lâmina em meus braços várias e várias vezes me faz sentir bem se eles não se sentem como eu sinto?
 Muitas vezes antes de dormir as pessoas pensam naquela pessoa que elas amam mas eu penso em formas de suicídio, fico imaginando as cenas e os passo a passo para realizá-los, então eu penso na cena em que alguém encontraria o meu corpo e o desespero das poucas pessoas que me amam e se importam comigo e isso me faz desistir de fazer qualquer coisa que tenha se passado pela minha mente.
 Eu tento não me cortar, lembro de todos os conselhos mas então eu perco minha cabeça, não suporto mais a pressão psicológica que coloco em mim mesmo e acabo voltando a praticar esse ato que é visto por muitos como uma forma que aberrações usam para chamar atenção, a famosa auto mutilação. Pois bem, talvez eu realmente esteja tentando chamar a atenção, um grito surdo de socorro, uma súplica por ajuda.
 Me sinto mal, me sinto errado, me sinto como se não pertencesse a esse mundo, a essa cidade, me sinto cansado de ser chamado de louco, de pessoas me julgando, de me sentir só, esquecido, odiado, pouco amado. Me sinto como se não tivesse mais nada para fazer aqui, que não sou bem vindo, que tudo a minha volta está desmoronando, que eu estou desmoronando, mal consigo me manter em pé.
 Finjo estar bem todo o tempo quanto estou na presença de outras pessoas e isso cansa, ninguém consegue imaginar o que sinto e eu não seria capaz de descrever o que exatamente se passa comigo mesmo que tivesse um conhecimento de todas as palavras de todas línguas existentes.